segunda-feira, 29 de março de 2010

Uma carta para Luiza

A imaginação estava bem alta. Acho que por isso você não ouviu meu insistente pedido: vem logo, Luiza. Sua mãe dramatizava reprovação toda vez que eu tentava lhe convencer a apressar os ponteiros. Deixa ela vir na hora que quiser, ah sim, cada um sabe a sua hora, claro claro, e voltava a lhe chamar baixinho. Ela estava certa. Eu é que estava irrequieta pra lhe encontrar, olhar no seu olho e buscar cumplicidade.

Tenho muita coisa pra contar. Suspeito que a essa altura você já deva estar imaginando. Suas coisas estão sendo organizadas há dias. O quarto foi reformado. Está tudo arrumado, alisado, alinhado. Seu pai colocou pés voadores na sua poltrona. Sua mãe inventou caixas com fundo falso para caber todas as aventuras. Sua avó costurou uma colcha em tons lilases para colorir as fantasias.

Até um ar condicionado foi instalado pra você não estranhar a temperatura maluca que anda fazendo por aqui. Andei dormindo por lá esses dias. Deixei uma surpresa ao lado do compartimento dos sonhos.

Ali e ali perto, todos querem impressionar. Sua tia não para de pesquisar comidas saudáveis e seu tio até encomendou um carro novinho só pra você. Sua prima, nem se fala. Passou no vestibular antes mesmo de começar a estudar.

Tem muita coisa querendo se mostrar. Peripécias inusitadas que aparecem, envolvem e revolvem. E voltam a envolver. Tem história nova, tem história velha e um calhamaço de páginas em branco.

Tanta coisa. Acho que quando a gente se encontrar, as palavras vão sair a galope, todas eufóricas, falando tudo ao mesmo tempo. Tanta coisa, mas ainda tem tanto. Pra que me adiantar? Acho que quando a gente se encontrar, as palavras vão se esconder, todas emocionadas, sentindo tudo ao mesmo tempo.
*

Estou indo para o hospital. Ela transformou meu primeiro pedido. Na hora certa, Luiza chegou.

Luiza nasceu no dia 29 de março de 2010. Filha da dupla Tati e Mico, pesa 3,110 kg e mede 50 cm. O pai está todo emocionado. Mãe e filha passam bem. Muito bem.